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Para garantir o distanciamento, atropelamos o desenvolvimento?

O confinamento traz consigo uma série de constrangimentos que, muitas vezes, nos atiram para um canto e colocam a nu todas as nossas fragilidades, por outro lado, o confinamento, permitiu-nos a possibilidade de nos mantermos ligados ao nosso núcleo familiar, ou seja, dentro das nossas próprias casas, podemos continuar a abraçar a brincar e estar coladinhos uns aos outros. Apesar de todas as desavenças, birras ou conflitos que possam ter existido, para muitas crianças pequeninas, isto foi uma bela oportunidade de passar o dia inteiro na companhia dos pais, de os reconhecerem noutra perspectiva e de terem miminhos a triplicar - e que ninguém diga que os mimos estragam as crianças, porque isso, em circunstância nenhuma é verdade.

Agora, com a reabertura das creches, que por si só, se avizinhava como difícil, porque quer queiramos quer não, as crianças adoram estar a tempo inteiro com os pais e não os trocam por nada, estamos a pedir que as creches se tornem em depósitos de crianças assépticos de amor, afeto e contacto físico.

Se um por um lado, é verdade que todos queremos que a pandemia acabe rapidamente e sentimos que temos de fazer tudo aquilo que é necessário para a extinguir, por outro lado, é importante ponderarmos as consequências a longo prazo de todas as medidas que estamos a tomar e sermos cautelosos nas nossas decisões.

A que custo estamos a pedir às nossas crianças que fiquem oito horas - ou às vezes, até mais - numa creche sem contacto físico com a educadora, sem partilhar brinquedos com os outros meninos, sem um abraço reparador? A primeira infância exige toque, exige estimulação sensorial, exige brincar, exige doses inigualáveis de afeto, para que uma criança possa desenvolver-se em todas as suas componentes. Não que as crianças mais crescidas - e até os adultos - não precisem de tudo isto, mas já tem consigo uma bagagem diferente, já dominam a palavra e cognitivamente conseguem perceber aquilo que lhes estamos a pedir, tornando-se este pedido menos castrador do seu desenvolvimento.

Um bebé de 2 anos, regressar à creche e ter uma educadora de máscara, que não pode abraçar, um melhor amigo com quem não pode partilhar brinquedos, ou, em última instância, ser colocada de costas para os amigos, é violência. Uma violência que instaura um clima de medo, que coloca a um canto o seu desenvolvimento saudável. Numa altura em que o bebé devia estar a explorar, a criar relações, no fundo, a a ser um pequeno cientista a descobrir o mundo e a descobrir-se, optamos por colocá-lo prisioneiro da nossa necessidade de fazer o mundo continuar a rolar, sob a forma que consideramos adequada. Por muito que tentemos que não seja essa a mensagem, será assim que uma criança a irá receber, com todas as consequências a ela inerentes.

Assim, é importante recordarmo-nos que o país não pode parar, que a economia tem de avançar, mas que, a par com tudo isso, o desenvolvimento e saúde mental dos nossos bebés e as crianças não podem ser colocados em segunda linha de prioridade. As creches são um lugar de afetos e é dramático que os nossos bebés e crianças passem a respirar medo, onde antes - para descanso de todos nós - respiravam amor.


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