A parentalidade está a evoluir a passos largos e, sem dúvida, que há cada vez pais mais conscientes, que conseguem conjugar o seu dia-a-dia e a parentalidade de uma forma absolutamente singular, que conseguem guardar um tempo para se repensar e para equilibrar a forma como estão a educar. Mas, apesar destas conquistas, continuamos a observar quer em contexto familiar, quer em contexto escolar, que a maioria dos adultos opta por gritar com as crianças quando quer que elas levem a cabo uma tarefa que, por um motivo ou outro, não estão a executar, ou quando simplesmente querem repreender. Aí, a opção mais fácil e a que muitas vezes se recorre é encher os pulmões de ar e gritar. E, por norma, aquilo que os adultos pensam é que isso é inócuo para a criança, que a vai fazer obedecer, sem consequências para ela. No entanto, e se fizermos o exercício de nos colocarmos no lugar da criança, conseguimos imaginar como se sente uma criança quando, lá do alto, sai um grito na sua direcção.
Não sendo fundamentalistas, pois mais tarde ou mais cedo, todos os pais, vão acabar por, por algum motivo, soltar um grito na tentativa de conter alguma atitude da criança ou de a mobilizar para alguma acção e, até aí, o problema não é de maior, desde que os pais consigam fazer um exercício de tomar consciência e tentarem controlar numa próxima oportunidade esse grito.
O que nos preocupa é a facilidade com que, sob o pretexto de educar se grita, porque sempre que gritamos com uma criança, não a estamos a educar ou a ensinar que fez algo errado, estamos sim, a mostra-lhe, em primeiro lugar, que não somos capaz de nos controlar e conversar a tranquilamente e com respeito, mostramos-lhe que nós próprios estamos num estado de tensão que não conseguimos gerir. Ora, andamos todos a tentar que as crianças aprendam a gerir e a controlar as suas emoções, mas para isso é fundamental que os adultos de referência das crianças também sejam capazes de o fazer. Em segundo lugar, gritar tem consequências para a criança, habitualmente quando um adulto grita a criança fica com medo e muitas vezes, obedece com base no medo e não no respeito, a criança acaba por não aprender o que esta incorreto, e obedece apenas por “sobrevivência”. Para além disso, quando o grito vira norma, a criança começa a perceber que só precisa de agir quando surge o grito, a criança compreende o funcionamento dos pais e de alguma forma adapta-se a ele, e só quando surge o grito lhe soam os alarmes de “agora tenho de obedecer”, acabando sempre por ‘exigir' aos pais que gritem.
É, ainda, importante termos consciência que quando uma criança tem, porventura, na escola uma professora que grita, em casa uma família que grita, fica sobre um stress contínuo, que mais não faz do que aumentar a sua agitação e angústia. E mesmo que a criança já se adaptou aos gritos, o grito faz a criança sentir-se ‘pequenina’, o grito consecutivo pode gerar o medo de errar, e no limite, faze-la sentir-se humilhada, o que, a longo prazo, contamina o seu pleno desenvolvimento.
Assim, sempre que, na ânsia de educar, gritamos, embora, às vezes, o grito pareça funcionar, não só não educamos, como geramos confusão e angústia na criança, às vezes, envolta em alguma raiva, como quem pensa “é injusto, estão sempre a gritar comigo.”
É fundamental, para pais e filhos, que os gritos deixem de ser uma constante, mudar a perspectiva, com uma atitude firme e positiva perante os erros das crianças, não gritar não significa significa sermos permissivos, significa que conversarmos e mostramos às crianças as consequências dos seus erros. Assim, para contornar o hábito do grito é importante que os pais sejam assertivos e consistentes, sendo que, quanto mais alto se fala menos as crianças são capazes de nos ouvir, apreender e elaborar aquilo que está a ser dito, ou seja, a formula será, quanto mais baixo se fala, desde que com segurança, coerência e afeto, mais as crianças nos ouvem.
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