Em tempo de Pandemia, a escola teve de se reinventar e, muito bem, conseguiu fazê-lo a uma velocidade relâmpago! Muitos Professores desdobraram-se em várias versões de si próprios para conseguirem aulas online e chegar a cada turma e cada aluno. No entanto, nesta adaptação, por muito que os professores não o desejem, vão “pilhas” de trabalhos para casa, na esperança que as crianças sejam capazes de estudar sozinhas! O que a escola se esqueceu, foi de ensinar uma das competências mais importantes, não só ao estudo, mas ao dia a dia de uma criança: a autonomia!
Queremos que as crianças e adolescentes se concentrem e trabalhem 8 horas por dia em casa, como se as circunstâncias fossem as mesmas, como se o currículo, neste momento, pudesse continuar a ser o mesmo. Assim, temos os pais que, para além do teletrabalho, se vêem obrigados a vestir o papel de Professor - muitas vezes de mais do que um filho - e gerir o dia a dia de uma família em isolamento, tornando-se tudo isto difícil e, não raras vezes, absolutamente esgotante para todos os pais e mães que estão a dar o melhor de si.
Sim, a escola é fundamental, que as crianças e adolescentes continuem a estudar e desenvolver as suas competências a partir de casa é fundamental. No entanto, à custa disso, não podemos colocar as famílias à beira da exaustão. Não nos podemos esquecer que a prioridade, quer em contexto de pandemia, quer em circunstâncias normais, deve ser sempre a harmonia e a ligação da família, e, só depois, a escola. Pois, sempre que prejudicamos a família, ou até mesmo o brincar, prejudicamos de forma severa a aquisição de qualquer aprendizagem.
Outra questão, é que passamos horas a ensinar matemática, português e outros conteúdos, mas dedicamos muito pouco tempo a ensinar as crianças a estudar e adquirir estratégias para ter foco e concentração. E, isto representa qualquer coisa como ensinarmos a correr, antes de uma criança saber andar. Ou seja, estamos a ensinar conteúdos, e, algumas crianças conseguem, por características internas e apoios externos aprender a estudar de forma eficaz e produtiva, aprender a focar-se, outras simplesmente, nunca encontram uma linha orientadora no estudo e que lhes permita estudar de forma eficiente.
Para além disso, a nossa casa é sempre uma extensão de nós próprios, faz parte da nossa construção e da nossa identidade, é o nosso lugar seguro. E agora, todos fomos chamados a estar fechados em casa e, isto, só por si, é um fator que introduz confusão, porque, de repente, o lugar em que estávamos por bem-estar, passa a assumir uma função que, por vezes, se assemelha a uma “prisão”. E aqui, as crianças e adolescentes não andam distraídos e sentem exatamente o que está a acontecer, com o fator agravante de que, nem sempre, falamos com eles sobre o que está a acontecer de forma clara e coerente. E, não nos podemos esquecer que tudo isto, afeta a capacidade de aprender e, principalmente, a capacidade de concentração. Assim, não podemos pedir que, nestas condições uma criança, ou adolescente, se concentre de forma tão eficaz como anteriormente. Neste momento, é urgente adaptar a forma como as crianças adquirem as competências a partir de casa e lembrarmo-nos que a prioridade não deve ser cumprir os currículos por cumprir, mas sim, consolidar e desenvolver as competências essenciais de forma eficaz, mesmo que os currículos fiquem, para já, em stand by.
Com tudo isto, quando regressarmos à normalidade, que ninguém se esqueça que antes de se saber equações complexas ou a tabela periódica, uma criança precisa de desenvolver a capacidade de trabalho autónomo e automotivação, precisa de aprender técnicas de estudo eficazes e aprender a olhar para dentro de si! Só assim, o futuro nos deixará a todos - pais, professores, crianças e adolescentes - mais tranquilos e mais capazes.
Kommentare