“Mãe tenho medo do escuro”, “tenho medo de dormir sozinho”, “tenho medo do cão”, “tenho medo do teste”, “tenho medo do papão”, “tenho medo!!!”. Quantas vezes, não ouvimos as crianças e até os mais crescidos, replicarem que têm medo. Mas, afinal, qual é a função do medo? Afinal, porque vivemos tantas vezes presos aos medos? O medo tem a função simples de nos proteger, de nos fazer mover para a acção: ou para lutar ou para fugir. Sempre que nos sentimos ameaçados pelo perigo, surge o medo, esse ‘monstro’ que todos queremos longe de nós e das nossas crianças, mas que nos esquecemos que, não fosse o medo, e a humanidade já estaria extinta.
Ora, na cabeça de uma criança, que no alto dos seus 7 anos, cruza os braços, faz um beicinho e nos diz: “não durmo sozinho, porque tenho medo do bicho papão”, está, muitas vezes, uma real sensação de perigo, uma real ameaça, e um real apelo aos pais para o protegerem dessa ameaça. Sim, porque é nessa entidade superior, que são os Pais, que uma criança deposita a sua segurança e bem-estar. Perante um grito de medo, uma mãe e um pai sensatos, com a maior das sabedorias, resvala sempre para um típico “não tenhas medo!” ou “não existe o bicho papão!”, o que não só não faz com que o medo desapareça, como faz com que a criança sinta que ninguém, nem o pai e a mãe, são capazes de o compreender… E quando encaramos o medo sozinhos, temos a sensação que nunca o vamos vencer!!
Não ouvir o medo de uma criança, não lhe dar espaço para existir, é o primeiro passo para que ele cresça e ganhe uma dimensão gigante dentro da criança. Mesmo que para nós o bicho papão não exista, isso não é claro e inequívoco para uma criança, para ela, naquele momento, o bicho papão existe e é muito real, ao ponto de a deixar em perigo.
Afinal o que deve a mãe e o pai fazer perante o medo? Ora, com o coração todo, devem perceber se estamos perante um medo efectivo, ou perante aquela típica tentativa de mergulhar no calor dos pais e conseguir o que se quer… Se estivermos perante um medo efetivo, é importante dar-lhe voz e ouvi-lo, em primeiro lugar, desconstruí-lo, em segundo, integra-lo por último. Sim, uma criança com medo, pode tornar-se num adulto inundado de coragem, se perante o medo, os pais não ficarem ainda mais assustados que os filhos, se perante o medo, os pais souberem desencaixa-lo, perceberem os seus contornos, e voltarem a encaixar tudo dentro da criança. Se perante o medo, não aparecer de imediato uma luz vermelha a sinalizar que a criança não pode ter medo, então podemos estar perante um futuro adulto cheio de coragem, à semelhança de um orgulhoso super homem. Se dermos espaço ao medo, alimentamos a coragem.
#escoladosentir #inteligenciaemocional #criançasfelizes #educarcomamor #medo

Comentários