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Ser obediente, é bom?

Quando fazemos o exercício de pensar em crianças, por norma, imaginamos crianças com energia, a rir e a brincar, por outro lado, dá-nos um sentimento de certa estranheza imaginar uma criança no seu cantinho quieta, como se, não existisse. Não raras vezes, estamos demasiado preocupados com as crianças ditas “hiperativas” e esquecemo-nos de olhar para as crianças “hiperpassivas”, crianças que fazem os possíveis para serem invisíveis, que nunca perturbam e são, regra geral, extremamente obedientes.


Queremos crianças obedientes, desde que a acompanhar a obediência existam gestos espontâneos e a expressão daquilo que a criança sente e pensa. Aquilo que nos preocupa é quando a obediência vem tolhida de uma certa invisibilidade, isto é, quando a criança por tão assustada que, às vezes, se encontra, faz os possíveis para ‘não existir’. E, ‘não existir’ é, muitas vezes, um reflexo de obediência com base no medo, e, sempre que uma criança obedece com base no medo, está a distanciar-se de si própria e torna-se incapaz de respeitar o seu espaço e de apreender a noção de empatia e respeito pelos outros.


É essencial que as crianças sejam capazes de obedecer e ter um conjunto de regras que balizam os seus comportamentos, sem que vivam permanentemente sufocadas pelo que imaginam que esperam delas e está certo. Da mesma forma que, as crianças devem aprender que ter um bom rendimento escolar, ajudar nas tarefas domésticas, responder de forma adequada aos adultos, são atitudes que devem ter, porque estão correctas e são a base do respeito e não para serem recompensadas de forma directa e imediata. Pois, sempre que uma criança faz uma tarefa com a expectativa de ter uma recompensa, a noção de que o faz porque é assim que deve ser e porque é uma responsabilidade sua, perde-se, e, a certa altura, temos crianças que só se movem com base nas recompensas.


É importante que a criança compreenda que tem deveres e que tem direitos e que entre eles, existe respeito, compreensão, empatia e amor. Claro que, se uma criança consegue levar a cabo um conjunto de comportamentos e atitudes que até então não tinha conseguido, os pais podem e devem recompensá-la, no entanto, esta recompensa deve funcionar como um reconhecimento e não como uma recompensa por si só, isto é, a criança teve uma série de atitudes que deixaram os pais muito satisfeitos, desta forma, os pais vão exercer um gesto de reconhecimento para com a criança, este gesto acontece sem que a criança esteja a contar, e se for imaterial tanto melhor, isto é, se em vez de um brinquedo ou um jogo os pais proporcionarem à criança um momento relacional de que ela goste, como uma ida ao cinema, ou um piquenique, pois desta forma a criança é capaz de ter uma linha orientadora que lhe sinaliza que está no caminho certo e que deve continuar desta forma.


Passo por passo, a criança vai adquirir valores que vão reger toda a sua atitude perante os desafios do seu dia-a-dia, aprende assente nas linhas orientadoras dos pais, sem que delas tenha medo, sem que para ser obediente precise de ser invisível.


Desta forma, é importante que as crianças riam com o corpo todo, que as famílias permitam a liberdade de expressão e dêem espaço à individualidade de cada criança e, como não podia deixar de ser, eduquem praticando o amor, o afeto e o respeito, pois, só quando uma criança cresce num ambiente que é estruturante e que lhe permite a individualidade com a retaguarda do calor dos pais, se permite a existir em plenitude.




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