Procuramos demasiadas vezes, evitar que as crianças - ou nós próprios - manifestem movimentos agressivos, como se, os movimentos agressivos acabassem por ser negativos quer para nós, quer para os outros. Quando o fazemos acabamos por bloquear um dos nossos mecanismos mais inatos que não só nos protege, como nos alavanca para os nosso desafios e conquistas.
O grande problema de passarmos muito tempo a exercer uma força de bloqueio à nossa agressividade é que vamos gerando contenção e impedindo os nossos rasgos mais espontâneos. Este cenário a longo prazo - quer em crianças, quer em adultos - traduz-se num prejuízo ao nível do bem-estar psicológico, num aumento dos níveis de stress e de ansiedade.
A verdade é que só o fazemos porque confundimos demasiadas vezes o conceito de agressividade e o conceito de violência. E a violência é, sem dúvida, uma coisa que nos assusta e da qual queremos fugir.
Por isso, é importante diferenciarmos a agressividade da violência e termos consciente que a agressividade, por si só, é essencial para cada criança e para cada um de nós, funciona como uma força motriz de nós próprios, permite-nos afirmarmo-nos, definirmos os nossos limites, ir a jogo nas mais diversas circunstâncias e manifestarmo-nos lutando por aquilo que acreditamos. Por outro lado, a violência implica um movimento com a intenção de magoar ou prejudicar o outro, ou o ambiente. A violência seja ela de que tipo for, nunca é positiva e a violência sim, deve ser controlada. E mais do que isso, sempre que um criança - ou um adulto - experiência movimentos de violência, deve procurar ativamente integrar e compreender esses movimentos.
Aquilo que é essencial percebermos é que a agressividade é uma reação natural de cada um de nós a um ataque, ou a uma dor. Por outro lado, a violência é um movimento de quem, no meio de uma grande confusão interna, procura magoar deliberadamente o outro.
Desta forma não faz mal que uma criança brinque às lutas, explorando os limiares entre a sua agressividade e a violência, não faz mal que um adulto que se sente injustiçado, defina de forma firme e clara os seus limites. O que faz mal é não o fazermos, porque sempre que não o fazemos contribuímos para a nossa explosão em rasgos de violência clara e manifesta - explosão esta que mais tarde, muitas vezes, se dá por situações injustificáveis.
Se continuarmos a bloquear os movimentos agressivos, contribuímos para o controlo, que contribui para o adoecer psicológico e que, por sua vez, contribui para o aumento da violência.
Assim, só quando nos permitimos a viver a agressividade no seu pleno como fator de equilíbrio interno, só quando educarmos as nossas crianças para a agressividade, permitindo-lhes protegerem-se sempre que necessário e irem a jogo, teremos finalmente menos violência.
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