Temos por hábito treinar as crianças para serem as mais populares, as mais inteligentes, as melhores no desporto, as mais capazes, assim, constantemente premiamos os melhores, temos ranking’s para o melhor aluno, o campeão do futebol, a melhor nadadora. A sociedade está organizada, de forma a, valorizar sempre o melhor ou o vencedor. Por si só, darmos valor às vitórias das crianças é bom, mostramos-lhes o nosso reconhecimento e damos-lhes um impulso que lhes mostra que estão a ir no sentido correcto e que devem continuar, no fundo, damos uma dose extra de autoestima às crianças. E, assim, de vitória em vitória, a criança sabe que está no caminho certo e sente o bom sabor do sucesso.
Mas, é importante mostrar-lhe o outro polo, preocupa-nos que, muitas vezes, ninguém pareça reunir muitos esforços para ensinar as crianças a lidar com a derrota, como se valorizássemos todas as vitórias e chutássemos para canto todas as derrotas. Não é estranho que, por exemplo, depois de uma vitória no campeonato de natação os pais não falem de outra coisa quando vão jantar a casa dos avós, ou dos tios, como se fosse perfeito mostrar aquele troféu à família, mas quando a criança perde, habitualmente, evitam falar sobre o assunto, como se de um tabu se tratasse. Assim, não damos espaço à criança para integrar a derrota, para saber aceitar que nem sempre pode ser a melhor.
Desta forma, acabamos por passar-lhe a mensagem de que perder é mau, que não se deve partilhar as derrotas e que com uma derrota só pode vir uma sequência de fracassos. A verdade é que nenhum pai ou criança gosta de perder, mas é fundamental aprender a perder e saber usar uma derrota, ou um fracasso, como uma oportunidade. Mas, é importante que os pais e educadores estejam atentos, pois, regra geral, nenhuma criança é capaz de aprender a perder ou a gerir um fracasso, sem o vivenciar e sem ter uma figura de referência que a ajude a pensar. É essencial mostrar à criança, que uma derrota não significa que é burra ou incapaz, mas sim que chegou a hora de se reinventar, de usar a imaginação e de tentar de outra forma.
A verdade é que, uma criança que cresce sem experienciar a derrota, sem aprender a perder, tende a ficar mais ansiosa e mais agitada, menos tolerante à frustração, perante as contrariedades e será um adulto menos capaz de reunir recursos eficazes perante as contrariedades. Ora, imaginemos por exemplo, uma criança que nunca teve uma negativa em todo o seu percurso escolar, e que quando chega à faculdade chumba no exame, esse adulto nunca lidou com essa dificuldade e não aprendeu que é possível dar a volta e, não raras vezes, vemos excelentes alunos, a viver a faculdade com grande ansiedade, por não saber gerir essas derrotas.
Quando ensinamos uma criança a saber aceitar um fracasso ou uma derrota, estamos a criar-lhe um espaço de aprendizagem que lhe permite re-pensar e re-inventar-se colocando em acção todos os seus recursos, isto é, levando-a a uma reestruturação para conseguir vencer futuramente.
Assim, gostamos de pais que não viram a cara a uma derrota, que, com coragem, ensinam que uma derrota, ou um fracasso, não é sinónimo de nunca mais ser capaz, mas sim de construir a capacidade de ir à luta com mais garra.

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