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Sim, as crianças podem sentir raiva!

Estamos culturalmente a desviar-nos da nossa essência emocional, ao longo do tempo que passamos com as crianças, vamos apercebendo-nos que lhes é ensinado que não devem sentir raiva. Alguns professores ou pais, ensinam-lhes que sentir raiva é mau, quer para eles, quer para quem está a sua volta. Dizem-nos “aqui na sala de aula não podemos ter raiva”, então qual será o sítio apropriado para sentir a raiva? Ou, esperamos que as nossas crianças fiquem como uma espécie de bomba relógio que pode rebentar a qualquer momento?

Em primeiro lugar, todas as emoções cumprem uma função, todas nos transmitem alguma informação que é importante para restabelecermos o equilíbrio do nosso organismo. É extremamente perigoso reprimirmos as emoções de uma criança, rejeitar ou dizer a uma criança para não sentir raiva. Quando o fazemos, ensinamos uma criança a ignorar o seu mal-estar e desconforto. A realidade é que esta emoção não irá desaparecer, porque a ignoramos. Assim, podemos seguramente afirmar que todas as emoções nos trazem uma mensagem, e que o essencial não é ensinar à criança que não é bonito sentir raiva, mas sim, ensina-la a expressar e gerir essas emoções que, culturalmente associamos a emoções negativas.


A verdade é que estamos perante uma espiral crescente de doenças do foro psicológico, que não são alheias a esta ideia cultural de que as ‘emoções negativas’ não devem ser sentidas. A verdade é que sempre que ignoramos uma emoção, seja ela qual for, ela não se vai embora, é simplesmente atirada para de baixo do tapete e, mais tarde, ou se expressa de uma forma mais severa, ou dá origem a quadros de natureza ansiosa ou depressiva, por exemplo.


A este cenário, acresce, que dizemos verbalmente às crianças para não sentirem raiva por exemplo, e depois, sempre que desejamos que façam alguma tarefa acabamos por exercer a nossa autoridade muitas vezes de forma agressiva e tolhida de raiva, ora a criança aprende por imitação, e quando deseja alguma coisa, tenta também ela impor-se agressivamente sob forma de uma explosão em jeito de birra, e quando isso acontece, aí reprimimos e não lhe permitimos que se expresse dessa forma. Concordamos com o facto de não o permitirmos, no entanto, dentro da criança o ruído de fundo perante uma situação dessas é gigantesco, ela faz o que observa junto das suas pessoas de referência e, em consequência, é altamente castrada por esse comportamento, quando ele é aceite num adulto. É importante nunca perdermos de vista que todas as crianças observam mais do que ouvem, assim torna-se essencial dar o exemplo.


Em essência, não queremos que se perca de vista que quer em crianças, quer em adultos, nenhuma emoção deve ser ignorada, todas devem, em primeiro lugar ser expressas, para que depois, possam ser geridas da forma mais adequada e integrada dentro de nós, só assim, podemos exponenciar todos os nossos recursos.


As emoções são, desta forma, como uma espécie de colete salva-vidas que temos constantemente em nós, e que nos orientam para a acção e só se lhes dermos ouvidos, podemos estar plenos, tranquilos e seguros de nós próprios. Só quando as nossas crianças souberem dar ouvidos às suas emoções, elas estarão ao comando do seu dia a dia e estarão aptas a crescer saudáveis e felizes.


Por isso, é urgente que as crianças possam sentir raiva, livremente, no entanto, o desafio é ensiná-las a expressar essas emoções de uma forma adequada, isto é, a criança pode ficar com raiva porque lhe partiram o brinquedo favorito, só não pode, à custa dessa raiva, bater nos seus amigos. A peça chave está na forma como a criança expressa e gere as emoções, porque tê-las, ou não, é algo que ela não pode controlar.


É, assim, inequívoco, que se dermos voz a cada emoção que surge estamos perante um recurso de um valor incalculável para o nosso bem-estar e crescimento pessoal. As emoções deviam assim, ser distinguidas com medalha de mérito, de forma a, lhes reconhecermos o seu verdadeiro valor.



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