Gostamos que as crianças consigam enquadrar-se em determinados padrões e que consigam atingir um conjunto de feitos em determinadas alturas e, se por um lado, esses padrões nos ajudam a promover o crescimento das crianças e a balizar aquilo que é expectável em termos de desenvolvimento motor, cognitivo ou emocional. Por outro lado, muitas vezes, turvam a nossa visão quanto à essência e à singularidade de cada criança.
E quando isso acontece, muitas vezes, acabamos por colocar a rótulos que, não só não ajudam a criança, como não promovem o seu desenvolvimento saudável. Um dos rótulos que muito facilmente acabamos por colocar às criança é a hiperatividade e o défice de atenção e, a certa altura, temos um sem fim de crianças parecem ‘atropelados’ por esta condição.
Ora, quando falamos em défice de atenção, regra geral falamos de crianças que parecem não ter foco e que, por exemplo, saltitam de atividade em atividade, e, muitas vezes, o défice de atenção está de braço dado com a hiperatividade, como se, essas crianças além de não se concentrarem, parecessem estar sempre muito ativas, para lá daquilo que consideramos normal.
É importante percebermos que, apesar de haver quadros de hiperatividade e défice de atenção que devem ser diagnosticados, muitas vezes esta hiperatividade e défice de atenção, mais não reflete que um excesso de ruído interno, que a criança sendo incapaz de lhe dar significado, tem necessidade de expressar pelo corpo e, claro, quando há ruído interno é impossível haver atenção, porque tudo aquilo que se passa no mundo emocional da criança está a ocupar mais espaço que qualquer situação exterior. Por isso, é inequívoco que muitas hiperatividades e défices de atenção mais não são do que dificuldades emocionais que se expressam corporalmente, uma vez que emocionalmente não conseguem encontrar significado.
Por outro lado, o ritmo a que a crianças vivem proporciona estes défices de atenção, porque estão permanentemente a ser altamente estimuladas e, a seguir, ser capaz de manter o silêncio e concentrar-se numa tarefa torna-se muito difícil, é qualquer coisa como se, as crianças estivessem permanentemente num ambiente ruidoso e depois lhes pedíssemos para se sentirem bem, tranquilas e focadas em silêncio. Este exercício, para além de se tornar contraproducente é muito difícil para uma criança.
Por tudo isto, se queremos crianças, capazes de se concentrarem e capazes de tranquilizarem a agitação em que vivem, temos primeiro de ser modelos disso para as crianças, não nos esquecendo que é nas figuras de referência que as crianças modelam o seu comportamento, temos ainda de ser capazes de as ensinar a sentir e a dar significado as suas emoções, e por último, ser capazes de ensinar as crianças a parar e a a estar em silêncio e em relação consigo próprias.
Só assim, aumentamos a atenção, diminuímos a agitação e criamos espaço para que as nossas crianças vivam plenas de si e de tudo aquilo que vai dentro delas, sem pressão e em sintonia com o seu coração.
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