Desde que nasce uma criança há um grande investimento por parte dos adultos nas suas competências, palreiam horas a fio com a criança para que aprenda a falar, seguram-lhe nas mãos para aprenda a andar - e fazem-no durante o tempo que for preciso, até que, finalmente, se consiga equilibrar sozinha - , mais tarde colocam-na na escola quase 8 horas por dia, para se desenvolver cognitivamente - e tudo isto é, por norma, muito bem feito!
Mas, quando observamos tudo isto, percebemos que é feito muito pouco para que aprendamos a lidar com as nossas emoções. Assim, por hábito, uma das componentes mais importantes da nossa vida é deixada em auto-gestão. Seguimos distraídos para tudo aquilo que se passa dentro de nós, por exemplo, vamos sentido injustiça ou temos medo, mas guardamos para nós e, a par disto, temos a ideia que o medo, a tristeza, ou raiva são emoções destinadas aos fracos. E, também por força cultural, fazemos isto durante muito tempo, até que nos sentimos no limite de nós próprios e sentimo-nos a perder o chão.
Ora, é urgente que todos aceitemos que podemos estar tristes e que isso não significa sermos fracos, que se forem injustos connosco podemos - e, devemos! - impor-nos e estabelecer os nossos limites. Mas para, por exemplo, estabelecermos os nossos limites de forma adequada, sem que nos tornemos violentos, precisamos de ter ferramentas que devem de ser adquiridas e treinadas. Afinal, poucos de nós aprenderam a ler sozinhos, certo? O mesmo se passa com a gestão emocional, alguns com mestria - e, normalmente, por terem excelentes modelos enquanto crianças -, podem desenvolver a capacidade de gerir as suas emoções, mas na generalidade essas ferramentas deviam ser ensinadas à semelhança daquilo que acontece com o português e a matemática.
Como isso não acontece, chegamos a adultos, muitas vezes, afogados nas nossas próprias emoções. Acabando por viver mais para fora do que para dentro, isto é, acabamos por viver com vista ao que os outros vão pensar sobre tudo aquilo que nós estamos a sentir, com uma carapaça que, à primeira vista, nos parece resguardar e manter a nossa imagem, mas que, num olhar mais profundo, mais não faz do que nos fazer sentir mais longe de nós próprios e aumentar a nossa angústia.
A par de tudo isto, porque temos muitas crenças enraizadas, chamamos de personalidade a algumas das nossas características que nos tornam menos funcionais e a certa altura, dizemos que 'não é defeito é feitio’, e quando o fazemos, é o mesmo que ‘atirarmos a toalha ao chão’ e desistirmos de investir em nós próprios, no nosso bem-estar emocional, resignando-nos ao facto de que não somos capazes.
No entanto, para o bem de todos nós, para o bem das nossas relações, é essencial termos consciência que todos podemos estar ao comando das nossas emoções e, acima de tudo, que - mesmo em adultos - estamos sempre a tempo de adquirir estratégias que nos permitam aprender a dar significado a tudo aquilo que se passa dentro de nós, sentirmo-nos ao comando das nossas emoções, melhorarmos a qualidade das nossas relações e aumentarmos a nossa performance nas mais diversas áreas.
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