Cada vez mais, estamos mais atentos a todos os movimentos das crianças, cada vez mais somos mais exigentes com elas, e ser exigentes com as crianças não tem por si só mal, desde que a par da exigência exista tolerância, compreensão e afeto. São cada vez mais os pais que nos chegam em estado de quase pânico, a dizer “ele é agitado”, “ele é hiperativo”, “não se cala”, “não pára quieto”.
Ora, num primeiro momento, é importante desconstruir e consciencializarmo-nos que hiperatividade, agitação e energia são coisas diferentes, embora, por vezes, dêem as mãos. Preocupa-nos que, muitas vezes, quando uma criança não se enquadra na expectativa dos adultos, fiquemos numa ânsia de procurar um rótulo para uma criança, com o falso objetivo de esse rótulo ser tranquilizante.
No domínio do desenvolvimento emocional e psicológico o panorama é muito volátil, e um quadro psicológico pode modificar-se rapidamente, evoluindo quer no sentido positivo, quer negativa. Logo rotularmos crianças, muitas vezes, não só não ajuda como coloca uma falsa expectativa de que, se por exemplo, é hiperativa, terá sempre de se comportar de forma irrequieta e sem parar, fazendo com que todos à volta dela esperem um comportamento hiperativo da criança e, nem sempre, reunam estratégias para o evitar. Assim, é essencial, olharmos para uma criança de forma holística para percebermos todos os contornos da sua “hiperatividade”.
Por outro lado, tudo o que é energia é saudável, e devemos alimentar a energia e vitalidade das crianças, de forma a dar-lhes asas e exponenciar os seus recursos.
Quando entramos no domínio da agitação, devemos em primeiro lugar questionarmo-nos o que está a inquietar aquela criança, olhar para a família, para a escola, para todos os seus contextos e perceber qual o ruído de fundo que está a levar a aquela criança a domínios tão grandes de agitação que não a permitem tranquilizar. Pois, muitas vezes a agitação assume uma forma de máscara, para ocultar uma dor maior, como se a criança não se permite a parar porque não consegue pensar em tudo aquilo que se passa dentro de si e à sua volta.
Assim, é importante que todos nos tornemos mais tolerantes com os comportamentos espontâneos das crianças - sem nunca nos esquecermos das regras e dos limites -, que muitos, mais não são, do que rasgos claros de saúde mental. É o dinamismo mental, tolhido de curiosidade, imaginação e exploração do mundo, que cria um contexto propicio à aprendizagem, no entanto, muitas vezes, na ânsia de acalmar a “hiperatividade” mais não fazemos do que calar as vozes da imaginação e da exploração, arruinando assim a criatividade para dar valor ao ‘vamos lá imitar’. É urgente olharmos para a criança no seu todo, respeitando o seu ritmo e dando asas à sua energia e, nas situações, em que aquilo que temos é agitação, vamos ajuda-la a unir e a ligar os pontos dentro de si, de forma a que, de passo em passo, cresça mais tranquila e segura de si.
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