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Foto do escritorEscoladoSentir

Como é que a saúde mental influencia a forma como vemos o nosso corpo

1. Tendo em conta casos menos graves e outros mais graves, como distúrbios alimentares e dismorfia do corpo, pode-me explicar como é que a forma como nos vemos ao espelho é influenciada pelo estado de saúde da nossa mente?

Quando pensamos em saúde é essencial nunca esquecermos que corpo e mente são indissociáveis e que, por isso, nunca nos podemos distanciar da ideia de que ambos se influenciam mutuamente. Uma mente saudável cria espaço a um corpo saudável e vice-versa. O mesmo se passa com a nossa percepção corporal, se existir equilíbrio interno, há uma maior tendência a cuidarmos do nosso corpo e a ter uma percepção mais positiva sobre ele. Da mesma forma, um corpo em equilíbrio, gera maior bem-estar interior. Aquilo que, por vezes, acontece é que a nossa percepção do nosso corpo pode não ser real, isto é, se estivermos emocionalmente frágeis e instáveis, mesmo tendo um corpo saudável, podemos olhar-nos ao espelho e apenas ver defeitos no nosso corpo o que é uma percepção errônea de nós próprios e que tem impacto direto no nosso bem-estar.



2. Que fatores contribuem para desenvolver uma baixa autoestima?

A autoestima não está apenas relacionada com o nosso corpo e com a nossa aparência, está relacionada com a nossa percepção no seu todo, seja física, seja interna. Ou seja, está também relacionada com a nossa percepção acerca das nossas competências, desempenhos, comportamentos, relações ou crenças, por exemplo. Neste sentido, todos os nossos acontecimentos de vida vão de alguma forma impactar a nossa autoestima, seja no sentido positivo, seja no sentido negativo. Este impacto surge desde o início da nossa existência nas experiências que se vão criando, primeiramente com as figuras paternas na relação que se vai estabelecendo, na forma como somos amparados, amados e cuidados e, ao longo do nosso crescimento, na interação com o grupo de pares, no reflexo que os outros nos vão transmitindo acerca da nossa imagem e na forma como nos vamos sentido mais ou menos capazes. Sendo, por tudo isto, o processo de consolidação da autoestima um processo complexo e determinado por uma imensidão de fatores internos e externos difíceis de serem controlados, mas passíveis de investimento da nossa parte.



3. Por outro lado, podem inseguranças físicas fragilizar ainda mais a saúde mental? Trata-se de uma espécie de círculo vicioso?

Sim, se o corpo físico estiver frágil a saúde mental sai fragilizada também. Uma insegurança física pode - ou não - ter um fundo de verdade, no entanto, terá sempre impacto na nossa percepção de nós próprios e no nosso bem-estar. Se não se integrar essa insegurança de forma consciente no nosso interior, se não lhe atribuirmos um significado e se não a compreendermos de forma clara, ela pode ganhar espaço e tornar-se um nódulo dentro de nós, gerando condicionamentos claros à nossa saúde mental.



4. Aceitar/gostar do nosso aspeto físico passa primeiro por trabalhar a nossa saúde mental?

Não devemos trabalhar a mente, sem pensar o corpo, ou trabalhar o corpo sem a mente disponível. Assim, devemos ter clareza acerca dos nossos pontos frágeis e pontos fortes quer no nosso corpo, quer no nosso interior e, a partir daí, de forma integrada, inverter - dentro do possível - as nossas fragilidades e dar espaço e brilho às nossas potencialidades. Só quando atribuímos clareza a tudo o que somos é que podemos gostar de nós por inteiro, conhecendo e sabendo lidar quer com os nossos lados ‘bonitos’, quer com os nossos lados menos ‘bonitos’. Quando estamos perante uma necessidade clara de mudanças no corpo físico, por exemplo, é muito importante em primeiro lugar desenvolver competências internas que nos permitam alavancar as mudanças físicas, como por exemplo, níveis de motivação para a mudança, alteração de rotinas, uma perceção real do corpo físico, entre muitas outras coisas que possam levar a pessoa a gostar da sua imagem corporal.



5. Como podemos desenvolver uma atitude positiva em relação à nossa aparência física – seja o rosto, seja o corpo – ao trabalhar a nossa saúde mental? Existem estratégias, por exemplo, em contexto de consulta ou fora dela que podem ajudar?

Uma atitude positiva em relação à nossa aparência física só pode existir com uma atitude positiva em relação a nós próprios por inteiro. Um dos passos essenciais para consolidarmos a nossa autoestima passa por conhecermo-nos a nós próprios e sermos flexíveis connosco e com o ambiente à nossa volta, sendo capazes de aceitar o erro e a falha, ao mesmo tempo que reconhecemos e damos espaço aos nossos lados bons.

Para tomarmos consciência dos aspetos físicos que podemos melhorar, podemos, por exemplo, elaborar uma lista de tudo aquilo que gostávamos que fosse diferente em nós. Para, depois, analisarmos o que pode - ou não - ser passível de mudança e transformação. Para tudo o que é passível de transformação, podemos definir metas e objetivos, de forma a fazermos esse processo. Por outro lado, há características que podem não ter espaço à transformação e, deste modo, precisam de ser aceites e integradas dentro de nós. Para reforçar a nossa autoestima, também podemos criar uma lista de aspectos físicos que gostamos em nós.

Ao tornarmos consciente as nossas necessidades, podemos trabalhar a mudança e desta forma, conseguir uma atitude positiva em relação ao corpo e a tudo aquilo que somos.

Outra estratégia importante é evitar comparações com os outros, pois, regra geral, temos tendência a comparar os melhores lados dos outros, com os nossos piores lados o que, inequivocamente, nos faz sentir mais frágeis e em défice.

Assim, ter uma saúde mental equilibrada é fundamental, para que possamos ter uma percepção adequada do nosso corpo, para que consigamos aceitar a nossa aparência física, ou para alavancarmos as mudanças necessárias para o nosso bem estar.



Entrevista dada à Revista saúde e bem estar da Auchan.



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