As birras são das experiências emocionais das crianças menos compreendidas pelos adultos. Ora porque aparecem sem motivo aparente, ora porque são tolhidas de uma grande intensidade e muitas vezes vistas pelos adultos como desajustadas à real dimensão do problema que as origina.
A verdade é que as birras são um fenómeno, muitas vezes, complexo e difícil de decifrar. Ainda assim, quando pensamos nas birras, é essencial termos em consideração que há essencialmente dois tipos de birras: as birras biológicas e as birras manipulatórias.
As birras biológicas são birras que aparecem, regra geral, porque a criança atingiu o seu limite, seja de frustração, cansaço, raiva, medo ou ansiedade de separação. Estas birras são uma forma da criança se libertar do turbilhão emocional em que se encontra e ‘fogem’ do controlo da criança.
As birras manipulatórias, são birras em que a criança procura 'manipular' para atingir um determinado objetivo. Estas birras acontecem, por norma, quando a criança já tem consciência moral e social, ou seja, com mais frequência após os 6 anos. Nestas birras a criança tem um certo controlo sobre a própria birra. No entanto, devemos ter em atenção que, se uma criança opta por fazer uma birra, ao invés de comunicar de forma adequada as suas necessidades, está também a fazer um pedido de ajuda.
É, por isso, essencial que olhemos para as birras das crianças como um pedido de ajuda e que procuremos efetivamente ajudar a criança. Uma das melhores formas é lidar com as birras de forma afetuosa, definindo limites e correspondendo às necessidades emocionais da criança. Para isso, devemos optar por:
1 - Agir com tranquilidade - se quando a birra surge, ou num momento de frustração, os adultos de referência da criança conseguirem agir com tranquilidade, vão, aos poucos, ensinando à criança que não é necessário explodir e que há alternativas para expressar o que sentimos. É importante termos consciência que a forma como os adultos reagem perante uma birra vai modelar o comportamento da criança numa eminência de birra posterior;
2 - Dar opções à criança - se der opções limitadas à criança, a criança sente-se ouvida, sente-se parte das decisões e valorizada. Quando este sentimento é consistente, mais facilmente se contornam as birras do dia a dia;
3 - Antecipar - através da antecipação, podemos tomar consciência das linhas de fratura de uma criança e prever como a criança reagirá em determinadas circunstâncias. Se o fizermos, podemos ponderar as consequências, preparar a criança para as situações difíceis e, encontrar alternativas, para que a criança reaja de forma mais adaptada, não excedendo o seu limite.
Perante diferentes tipos de birras, podemos agir de forma diferente, por isso, as birras exigem sensibilidade e intuição por parte dos adultos para uma reação eficaz e reparadora. Ainda assim, fica claro que todas as birras representam um apelo da criança, um pedido de ajuda e, por isso, mesmo é importante que os adultos reúnam as ferramentas necessárias para responder a esse pedido de ajuda.
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