Quantas vezes, não respirámos fundo e pedimos um pouco mais de tempo, quantas vezes, não suplicámos por espaço para nós próprios, para a família e para um sem fim de coisas que nos dão prazer. Para além disso, quantas vezes, não nos isolamos, quantas vezes não nos sentimos a viver numa espécie de montanha russa, que não nos permitia chegar para junto dos outros, e, mais preocupante ainda, que, não nos permitia chegar para junto de nós próprios. Neste ritmo frenético quanto mais nos isolávamos, menos percebíamos que nos estávamos a isolar, como se, de repente, muitos de nós, estivéssemos a ficar como que anestesiados para a vida.
Agora, muitos de nós, encontraram espaço, encontraram tempo, viram-se forçados a parar e respirar fundo - como quem o faz por sobrevivência - e a equacionar tudo aquilo que, até aqui, não foi equacionado. Como se víssemos a vida em fotografias, mas tivéssemos a sensação que o nenhum de nós consegue prever a próxima fotografia. Perdemos a sensação de controlo, muitos adultos - mas, também muitas crianças - iam-se aguentando, nesta montanha russa, porque se sossegavam com a falsa sensação de controlo, tinham ideia que os seus passos estavam mais ou menos controlados. E, o controlo é, regra geral, uma forma de nos sentirmos mais seguros. E, neste momento, todos nós perdemos o controlo, de repente, há qualquer coisa de invisível que nos pode afetar a todos, independentemente das nossas especificidades e todos nós perdemos o controlo, e todos nós ficámos mais assustados.
Perante as circunstâncias, preocupa-nos mais quem não consegue aceder ao medo do que quem tem medo, pois, é previsível que todos fiquemos um bocadinho mais assustados, um bocadinho mais aflitos. Que tenhamos medo pelos nossos filhos, pelos nossos pais e por nós próprios, por isso, é fundamental aceitarmos o medo, sermos capazes de o processar e integrar dentro de nós - caso contrário ficaremos em casa, mas continuaremos na montanha russa, sem aceder a nós próprios, sem nos ligarmos aos outros. Neste contexto, de perigo eminente, é o medo que nos protege, por isso mesmo, é nosso aliado. No entanto, ser capaz de gerir esse medo é fundamental - para evitar que fiquemos presos a ele -, e uma boa forma de o fazermos é falarmos abertamente com que esta ao nossa lado sobre o que se passa, colocando por palavras aquilo que sentimos, como quem faz a dobrarem de um filme. Neste momento, quase todos temos um bocadinho de medo de morrer, e o reflexo é que - e muito bem! -, para nos protegermos desse medo, criámos apelos para ficarmos todos em casa e geramos uma onda de solidariedade que nos protege e protege os mais frágeis.
Neste seguimento, o panorama atual, fez a humanidade ver-se ao espelho, e realinhar-se com aquilo que é a sua essência. Quase todos parámos, quase todos nos obrigamos a refletir, para onde estávamos a ir e para onde queremos ir. Por incrível que pareça, até para os mais céticos, a imagem que vemos espelhada é incrivelmente bonita, é uma humanidade que, mesmo com medo, está a criar redes de apoio, das coisas mais básicas do dia a dia, às mais complexas. Assim, se aproveitarmos este tempo, seremos capazes de nos reconstruir, de nos transformar e nos alinhamos connosco próprios. Sejamos, neste momento, capazes de crescer por dentro em direcção aquilo que é o nosso propósito, à nossa individualidade e à humanidade. Pois, não temos dúvidas a Humanidade está cheia de amor e, pelo amor, alcançaremos tudo!
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