A paternidade exige flexibilidade e coloca os pais em confronto consigo próprios, trazendo à deriva diversas angústias e medos que, até então muitas vezes, estavam encobertos e, aparentemente equilibrados.
Por isso, um dos maiores desafios quando nos tornamos pais, é sermos capazes de olhar para aquilo que somos e que de alguma forma nos condiciona e preocupa, sem deixarmos que isso tenha implicação excessiva na relação que estabelecemos com os nossos filhos e na forma como nos tornamos pais.
E, nesta relação entre o que somos, o que nos condiciona e a parentalidade que exercemos, um dos principais desafios prende-se com dar espaço aos filhos, permitindo-lhes serem eles próprios e fazerem as suas próprias descobertas, sem que os pais tenham de estar no controlo absoluto de tudo.
Isto é, muitas vezes, porque desejamos o melhor do mundo para os filhos, porque sentimos que ninguém os pode amar ou proteger mais do que nós próprios, acabamos por exercer uma força de controlo muito grande sobre o seu dia a dia, as suas decisões e com isto, ao contrário do que desejamos retiramos-lhes a hipótese de - no tempo certo - desenvolverem várias competências.
É certo que as crianças precisam de limites defendidos e de estrutura, no entanto, também é certo que, a par desses limites, precisam de espaço para arriscar, tentar, falhar e sentir que podem ser elas próprias, independentemente, das expectativas dos pais. Só quando damos este espaço às crianças permitimos que desenvolvam a autonomia, que encontrem estratégias adaptadas para reagir perante o imprevisto ou para resolver problemas.
Quando não o fazemos, além de não permitirmos que as crianças desenvolvam estas competências, passamo-lhes a ideia de que não são capazes de agir e de tomar decisões, o que - invariavelmente - se traduz um traço de insegurança, que se vai expressar quer nos desafios do dia a dia das crianças, quer nas suas relações futuras.
Assim, se queremos que as crianças se tornem autónomas, capazes de “ir a jogo” e seguras de si, devemos lembrarmo-nos que devem ter espaço para falhar, arriscar, demonstrar aquilo que são e as suas opiniões. Espaço deve ser dado à medida de desenvolvimento da criança e deve ir aumentado consoante a criança se vai tornando cada vez mais capaz e autónoma. Dar este espaço a um filho, pode, num primeiro momento, ser assustador e difícil para os pais, mas é seguramente o melhor para o desenvolvimento de competências e bem-estar de uma criança.
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