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Porque é que é tão importante deixarmos que as crianças se sintam tristes?

No nosso dia a dia, temos por hábito hiper valorizar tudo aquilo que é bom e positivo, temos por hábito querer sempre que as crianças estejam a rir e felizes. É inquestionável que, é bom que as crianças estejam felizes e a rir, no entanto, só gostamos que estejam a assim, porque genuinamente o estão a sentir. O que nos preocupa, é que, cada vez mais, na ânsia de querermos crianças felizes, exercemos uma grande força de bloqueio a tudo o que é socialmente considerado como negativo. Ou seja, é como se não permitíssemos que as crianças fiquem tristes, ou sintam medo, por exemplo.

Assim, aos poucos, as crianças vão interiorizando, ao longo do seu crescimento, que não devem chorar, que não devem estar tristes, que não se devem zangar com ninguém e que sentir medo é para os fracos. Desta forma, aos poucos, estamos a abrir espaço à contenção daquilo que as crianças vão sentido, estamos subtilmente a ensina-las que não aceitamos esses estados socialmente considerados como menos bons, com os quais elas se vão deparando. Assim, aos bocadinhos, estamos a fazer com que a criança se vá distanciado de si, estamos a fazer com que a criança, só nos mostre os lados bons de si própria e todos os outros os atire para debaixo do tapete.


O grande problema é que ao atirar todos os outros lados para debaixo do tapete, embora nos pareça à partida que resolveu essas questões, todas elas estão a acumular-se dentro de si, estão todas dentro do seu coração sem que ela lhe consiga dar sentido. Vão se acumulando até ao dia em que a criança explode e de repente, uma criança que até aí parecia perfeita, desenvolve um quadro depressivo, perturbações do comportamento ou até a tão característica agitação, entre tantas outras fragilidades que vão comprometendo os seus recursos saudáveis.


As crianças - tal como os adultos - vivem com um sem fim de coisas dentro de si, que se não lhe permitimos em tempo real expressar, vão ficando lá, a pairar dentro dela, ela não consegue dar-lhe um nome, não consegue pensar sobre isso, e vão acumulando-se sobre a forma de ruído.

O essencial é que quando a criança está triste, permitamos que ela chore, permitamos que ela se sinta triste e sejamos capazes de suportar essa tristeza, o mesmo quando a criança tem medo, ou se zanga, sim ela pode zangar-se, desde que à custa de se zangar não bata nos colegas, ou nos pais, a criança precisa de aprende que pode sentir tudo e que há uma linha que a permite expressar tudo o que sente de forma a não se magoe si, nem aos outros.


No fundo, a premissa é simples, ninguém está feliz todos os dias, por isso, não o podemos exigir a uma criança, e temos de lhe ensinar que é normal e desejável que assim não seja, para que, de tristeza em tristeza, de decepção em decepção, de zanga em zanga, de medo em medo, a criança aprenda a expressar e reciclar em tempo real tudo aquilo que vai sentido.

Pois, só somos plenamente felizes, se aceitarmos e integrarmos e dermos sentido a tudo o que se vai passando dentro de nós e na relação com os outros, só assim, nos estamos a respeitar a nos próprios e a criar um espaço de encontro com a felicidade e o bem-estar pessoal, só quando permitirmos que uma criança esteja triste sem dizermos “deixa de chorar”, só aí estamos a permitir a verdadeira expressão das suas emoções e dar-lhe espaço para a verdadeira felicidade.



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